O “CASTIGO” ECLESIÁSTICO E A RENOVAÇÃO DA IGREJA
A
Diocese de Óbidos/PA recebeu no final do mês de Abril jornalistas da Alemanha,
ligados a Adveniat que vieram ao Brasil
para coletar materiais em vista da preparação da Jornada Mundial da Juventude. Fui
convidado pela jornalista Astrid Prange
de Oliveira para dar uma entrevista sobre a ordenação de mulheres, o
celibato e a missão no contexto da renovação da Igreja. Confesso que me pareceu
um pouco instigante a sutil afirmação, da mencionada Jornalista, de que a
escassez de padres seria resolvida com a admissão de mulheres ao ministério
ordenado. Diante disso me posicionei da seguinte forma: Vejo que o problema não
é tanto a escassez, mas a inadequada distribuição do clero católico que estão
aglomerados nos grandes centros; de tal modo, que em outras regiões como, por
exemplo, na diocese de Óbidos/PA nos deparamos com a chamada “escassez” de
padres. Este problema não será resolvido com a ordenação de mulheres, até
porque iríamos gerar outro problema: o da
infidelidade à Tradição Apostólica.
A
solução adequada já foi iniciada com o Concílio Vaticano II e reforçada no
Documento de Aparecida. A Igreja nos convoca à Missão! Lembrei da minha
experiência enquanto seminarista da diocese de Dourados/MS que ao terminar os
estudos teológicos aguardava a data da ordenação diaconal, porém, Dom Redovino
Rizzardo pediu que eu fizesse uma experiência missionária antes da ordenação.
Automaticamente pensei: “o que fiz para
merecer isso?”. Foi então que no coração da Amazônia, percebi que no fundo
desta pergunta está presente uma concepção histórica da missão que encontramos
na mentalidade da maioria dos futuros sacerdotes. Fazer missão para estes é
sinal de castigo! Vejamos que isso é fruto da consciência histórica
desenvolvida desde as origens da evangelização do nosso continente. É
justamente neste contexto que percebo onde e como colaborar com a renovação da
Igreja: mudar a consciência histórica.
E para isso é preciso que todos os bispos da Igreja Católica abracem a Missão
como um valor substancial da formação presbiteral não apenas nos documentos,
mas na prática. Mudaremos a consciência do futuro clero quando mudarmos a
consciência dos seminaristas de hoje. Imaginem a revolução espiritual que
causaria na Igreja se todos os bispos enviassem todos os seminaristas de sua
diocese para fazerem o estágio pastoral num território de missão. É a Missão
que renovará a Igreja, porque ela é fruto do Espírito que fecunda as almas e as
elevam a Deus. Foi o Filho enviado pelo Pai no Espírito Santo que nos trouxe a
Vida, por isso, devemos ser enviados para cultivar a vida eclesial que existe
nas diversas comunidades ribeirinhas, quilombolas e etc. Na verdade quando
doamos a vida geramos Jesus Cristo espiritualmente ao mundo.
Sabemos
que a realidade dos diversos territórios missionários nos desafia e nos prova
constantemente, porém, é diante deles que se purificarão os corações daqueles
que serão associados à missão do próprio Verbo encarnado. Em terra de missão
compreendi que a encarnação e a ressurreição não são meros conteúdos de fé, mas
são “modos de ser” da fé. Por isso, o candidato ao diaconato deve ser capaz de
renunciar, fazer a kenoses para
comunicar o conteúdo da graça que é a habitação da Trindade na alma.
Diante
da “escassez” do clero, a jornalista, me perguntou se a liberação do celibato
causaria um crescimento das vocações sacerdotais na Igreja? Penso que antes de
abolir o celibato devemos nos perguntar qual a mensagem que a vida celibatária
transmite a todos nós que estamos vivenciando uma mudança de época. O celibato
não é um obstáculo para o aumento das vocações, mas uma graça, um dom de Deus à
humanidade. A Igreja ao defender este estado de vida não nega a paternidade,
mas amplia o conceito de paternidade em âmbito espiritual. O hedonismo, o
individualismo e o relativismo nos tornam cegos diante do valor sobrenatural da
vida celibatária. Devemos abolir aquilo que provoca em nós a cegueira e não
aquilo que é imagem da realidade cristológica, eclesiológica e escatológica. O
celibato é uma resposta adequada aos sinais dos tempos.
Portanto,
a renovação da Igreja é fruto da ação do Espírito Santo que não nega a Tradição
Apostólica, por isso, ela não se sente autorizada a admitir mulheres ao
ministério ordenado. Mas é autorizada a mudar a consciência histórica em favor
da missão em vista da evangelização dos povos. A Igreja resplandecerá a sua
fecundidade quando romper os equívocos históricos acerca da sua dimensão
missionária.
Fernando Lorenz
Fernando Lorenz
Seminarista da Diocese de Dourados/MS
Missionário na Diocese de Óbidos/PA
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