Cristo aponta para a Amazônia. E
o que ele quer de nós hoje? Esta é a grande indagação dos 37 bispos dos
regionais Norte I, Norte II e Noroeste, reunidos em Santarém.
Segundo Dom Jesus Maria, bispo da
prelazia de Cametá e presidente do Regional Norte II da CNBB, os pastores das
igrejas na Amazônia não estão reunidos para discutir de assuntos da igreja, mas
para tratar dos problemas sociais que atingem os povos da Amazônia.
Dom Roque Paloschi, bispo da
Diocese de Roraima, e presidente do Regional Norte I, destacou que as alegrias, as tristezas, os
sofrimentos e sonhos dos povos da Amazônia devem ser também dos bispos, e neste
encontro a intenção é responder aos apelos sociais Deus coloca nos caminhos de
cada um.
Dom
Mosé João Pontelo, bispo da Diocese de Cruzeiro do Sul e presidente do regional
Noroeste, afirmou que os problemas estão aí, e isso requer responsabilidade dos
pastores, que são lideres dessa igreja.
Bispos se posicionam sobre
Grandes projetos da Amazônia
Um dos problemas enfrentados hoje
pelas populações da Amazônia são os grandes projetos, que além de causarem
grande impacto ao meio ambiente, geram lucros para alguns e provocam inúmeros impactos
sociais negativos nas cidades onde estão instalados. Esse foi o assunto
principal da primeira coletiva oficial concedida à imprensa na tarde desta
terça-feira, 03, no Seminário São Pio X, como parte do 10º encontro dos bispos
da Amazônia, que está sendo realizado em Santarém-PA.
A entrevista foi concedida por
Dom Jesus Maria Berdonces, bispo da prelazia de Cametá e presidente do Regional
Norte I; Dom Mosé João Pontelo, bispo da Diocese de Cruzeiro do Sul e
presidente do regional Noroeste; Dom Roque Paloschi, bispo da Diocese de
Roraima e presidente do Regional Norte 1 e Monsenhor Raimundo Possidônio, coordenador
de Pastoral da Arquidiocese de Belém e historiador.
Dom Jesus Maria Berdonces afirmou
que a Amazônia é tida até hoje como uma colônia, aonde as pessoas vêm, pegam a
matéria prima, enriquecem e vão embora. “Esse é um modelo capitalista pautado
pelo governo para a Amazônia, que não leva em conta o povo que aqui mora. Para
eles, o povo é apenas um detalhe, que atrapalha o desenvolvimento, ressalta”.
Ele destacou que existe outro modelo
defendido pela Igreja, cujo foco são os povos que estão na Amazônia. “A igreja
defende o incentivo à agricultura familiar, defende que os lucros das riquezas
(minerais e vegetais) sejam deixados na Amazônia, e que os povos sejam ouvidos”.
Já Dom Roque Paloschi destacou
que a questão é saber quem está usufruindo dos lucros desses grandes projetos,
que além de terem as bênçãos do governo, são financiados com o dinheiro
público. Ele ressalta que as populações não têm garantias, e suas terras quase
sempre são “abocanhadas” pelo agronegócio e por grupos econômicos que aqui chegam.
Dom Roque defende o respeito à
biodiversidade, a participação de homens e mulheres amazônidas, que possuem a sabedoria
milenar e tradicional de cuidar do meio ambiente sem agredi-lo. Ele espera que
o encontro de Santarém provoque uma verdadeira reflexão. “Nós esperamos
contribuir para que uma reflexão aconteça para que nossas comunidades se tornem
sujeitos dessa região e não apenas vista como um entrave no processo do
desenvolvimento sonhado pelo agronegócio e pelo governo”, enfatiza.
Dom Mosé João Pontelo afirma que
os problemas estão aí, e isso requer responsabilidade dos pastores, que são
lideres dessa igreja. E o encontro de Santarém vai apontar qual será o caminho
a ser seguido nos próximos cinco anos.
Dom Jesus Maria acredita que os bispos
têm a obrigação de tentar iluminar a caminhada com a Palavra de Deus, mas
também assumir o desafio e o povo da Amazônia. “É necessário não fugirmos da
cruz de nosso Senhor, que é a cruz dos pobres e dos povos desta região”,
finalizou.
O 10º encontro dos bispos terá um
documento conclusivo e uma carta encaminhada aos governantes dos Estados da
Amazônia, outra ao Povo de Deus e uma ao Papa Bento XVI.
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